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Com coronavírus, vendas caem 16%. Quais setores serão mais afetados?

Medidas que a população vêm adotando para evitar contaminação com o coronavírus fazem o comércio cair 16,3% no primeiro fim de semana em São Paulo. Como sobreviver à escalada da doença sem fechar as portas? 

por Elaine Ortiz

Atualizado em 11 de fevereiro, 2021

Com coronavírus, vendas caem 16%. Quais setores serão mais afetados?

As perspectivas não são animadoras para os empresários e microempresários brasileiros. A escalada do coronavírus no país, que até a tarde desta quinta-feira (19) já havia feito 7 mortos entre 534 casos confirmados, além de desafiar a saúde pública e a economia, coloca em xeque o emprego e a sobrevida dos comércios. 

Segundo a Associação Comercial de São Paulo (ACSP), somente no primeiro fim de semana desde que o exílio voluntário teve início, as consultas para vendas a prazo e à vista nas lojas tiveram queda de 16,3%. O número tem como referência o fim de semana anterior. 

Com menos pessoas circulando em ambientes públicos, como shoppings e grandes centros comerciais, o levantamento já reflete a atual realidade: de que o consumidor está se retraindo, e mudando seus hábitos de consumo aos poucos por conta da pandemia.

“A perspectiva não é nada favorável”, diz Emilio Alfieri, economista da Associação Comercial de São Paulo. “Os números deste fim de semana representam uma queda forte e a tendência é cair ainda mais. Mas não dá para projetar por conta do fator que está impulsionando as mudanças, que é um fator exógeno, que está fora da economia, e não está no controle de ninguém. Aparentemente vai ter um agravamento da pandemia e a gente não tem certeza do que virá pela frente”, explica. 

Leia também: Com avanço do coronavírus, como ser mais produtivo em home office?

Empreendedorismo em xeque

Incerteza é a palavra que os empreendedores mais têm utilizado para falar da crise que o mundo está vivendo por conta do avanço do coronavírus. É o caso de Angela Maria Caraciola, dona do Padella Prime Marmitas, que até a sexta-feira (13) costumava vender 900 marmitas na porta de seis empresas de São Paulo. 

Ela viu suas vendas diminuírem bruscamente com a adoção do trabalho remoto de todas as empresas para quais distribuem os pratos saudáveis: na segunda-feira, entregou apenas 400 unidades, no dia seguinte, 200, na quarta-feira não compensava mandar o carro entregar as 60 marmitas que haviam sido encomendadas.  

“Estamos assustadas, sem saber como vamos desenrolar nossas contas”, diz Angela, que trabalha em sociedade com sua filha, Ligia C. Gagliardi, há cinco anos. “O dinheiro em caixa é pouco, mas vamos tentar ajustar as contas. Por enquanto já começamos a nos organizar com fornecedores para adiar as datas dos pagamentos dos boletos que temos, negociar com bancos empréstimos para ver se prolongamos o prazo de pagamento”, conta Ligia. 

A maior preocupação das empresárias é com as 23 famílias que empregam na cozinha localizada no Tatuapé, zona leste de São Paulo.”Os impostos vão ser adiados, mas ainda assim o mais complicado vai ser garantir os empregos dos funcionários, são várias famílias que dependem desse emprego, então estamos muito preocupadas”, conta Angela.

O plano B da Padella Prime é fazer delivery via iFood e rodízio de funcionários. “Mas pelo aplicativo você vende hoje para receber mês que vem, além de serem cobradas muitas taxas”, diz Angela.

As empresárias contam que tem caixa para dois meses e que acabaram de fazer um investimento alto para a cozinha (cerca de 70 mil reais). “Acabamos de adquirir um forno para melhor atender nossos clientes, ele é maravilhoso e é caríssimo, utilizamos incentivo do BNDES para isso, e nem usamos ainda, a instalação ia ocorrer essa semana”.

Leia também: Quais os reflexos na economia com a crise do coronavírus no Brasil?

Quais setores serão mais afetados com a crise do coronavírus?

De fato, segundo a Associação Comercial de São Paulo, o setor de serviços de alimentação será um dos mais afetados com a crise do coronavírus. “O desafio da crise é sobreviver”, diz Emilio Alfieri, da ASCP. “Bares, lanchonetes e restaurantes vão sofrer muito. O varejista de bairro vai ser impactado, mas menos. O vendedor ambulante pode sofrer com a falta de público também. A crise não é boa para ninguém, não está sendo fácil nem para o pequeno, nem para o médio, nem para o grande”, diz.

Emilio explica ainda que o que já houve nessa primeira semana de avanço do coronavírus e isolamento domiciliar das pessoas foi um deslocamento de prioridade. “O varejo restrito, em um primeiro momento, vai ter arrefecimento, como já teve, mas depois o mercado se acalma porque o lado real impacta menos que o lado financeiro”, diz.

“Essa queda registrada no primeiro fim de semana foi um deslocamento da prioridade: quando  o consumidor se assustou com a pandemia ele foi para o supermercado e farmácia a fim de garantir gêneros de primeira necessidade. Móveis, eletros, calçados podem estar em segundo plano no momento”.

O economista explica também que um dos maiores desafios vai ser a manutenção do emprego. Segundo o  Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa de desemprego no Brasil ficou em 11% no trimestre encerrado em dezembro, atingindo 11,6 milhões de pessoas.

“O problema não é só atacar o vírus, é manter o emprego. O emprego até que estava crescendo bem, num nível razoável, mas precisa acompanhar isso. O governo tem qu entrar nessa duas areas: saúde e manutenção do emprego, até para não retrair o consumidor. Essa é a chave do manuseio para essa crise”. 

Leia também: Coronavírus mata centenas e abala economia. Relembre outros casos

Microempreendedor: como passar por esse momento?

O Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) divulgou dicas para os empreendedores passarem por esse momento de crise do coronavírus minimizando os prejuízos. Confira:

Caixa

As pequenas e médias empresas devem ficar atentas ao seu caixa, negociando e renegociando prazos com seus fornecedores para que ganhem fôlego nesse período de aperto financeiro. Também devem ficar atentas às linhas de financiamento colocadas pelo Governo Federal e Estadual para empresas com dificuldades financeiras devido à pandemia

Faturamento

Importante destacar que, empresas que tenham canais diversos de atendimento (físico e remoto), neste momento invistam no atendimento remoto para suprir a queda do faturamento em seu canal físico.

Despesas

Reavalie todas as despesas, que vão desde o papel para impressão, cafezinho, copo de plástico, material de escritório, plano de telefonia e internet. Veja o que realmente utiliza e se há desperdícios ou há a real necessidade.

É o momento de revisar todos os contratos de prestação de serviços e também os de aluguel e financiamentos para buscar uma negociação melhor.

Veja se está na hora de substituir máquinas e equipamentos ultrapassados e que consomem mais energia elétrica. Importante também otimizar a logística dos processos para reduzir as despesas com o deslocamento e transporte.

Falta de insumos e mercadorias

Busque e valide outros fornecedores de mercadorias e insumos, caso possível. Não fique na dependência de um único fornecedor. Avalie a possibilidade de formação de estoques de segurança, sem comprometimento do caixa da empresa e do capital de giro.

Planejamento

Faça um planejamento para os próximos meses. Reveja a sua operação, pois entender quais aspectos do seu negócio podem ser afetados é crucial, portanto, acompanhe o cenário da doença.

Tenha um plano de ação prevendo ocorrências futuras e as possíveis alternativas para minimizar os impactos negativos, com foco na saúde dos colaboradores e clientes e na manutenção das atividades da empresa.

Cuidados

Monitore todos os seus prestadores de serviço e, caso identifique qualquer sintoma, siga o plano de contingência da Agência Nacional de Saúde.

Leia também: Empreendedorismo: aprenda a separar as finanças pessoais e da empresa

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