Iniciar um negócio com pouco ou quase nenhum dinheiro é a realidade de muitas brasileiras. O estudo “Empreendedoras e seus negócios 2018”, realizado pela Rede Mulher Empreendedora (RME) com apoio da Avon reforça essa estimativa. Segundo a análise, 37% das duas mil mulheres ouvidas abriram o negócio sem nenhum recurso. Outras 17% recorreram ao dinheiro guardado na poupança e 13% ao próprio salário. Embora alarmante, o dado é a realidade de muitas mulheres empreendedoras. Principalmente pela falta de incentivo e de iniciativas para facilitar o ambiente empreendedor no Brasil.
A maneira encontrada por muitas empresárias para sobreviver nesse ecossistema é inovar - e saber a hora certa de se reinventar. E foi o que a empresária Ana Maria Gomes, sócia-fundadora do Comida Boa, fez. Após sete anos à frente de uma produtora de eventos, ela desfez a empresa com a sua sócia em meados de 2017, por dificuldades de se manter nesse ramo.
Comprometida com seu objetivo de carreira, que é ser empresária, a saída encontrada por Ana foi a de investir o dinheiro que recebeu com o fim da antiga empresa em uma nova oportunidade de negócio: uma companhia de comida saudável, da linha “low carb”.
E a aposta no novo empreendimento tem sido muito positiva. Seis meses após ter entrado no negócio - que fora iniciado por sua irmã e seu cunhado - Ana viu a receita da companhia crescer 400%. “Eles tinham a expertise do produto e eu entrei com o conhecimento de gerenciamento de empresa, além da verba para otimizarmos a produção”, diz a empresária.
Mulheres empreendedoras: panorama
A experiência de Ana a ajudou no processo de transição de empresa, tornando-a menos traumática. Essa, porém, não é a realidade de muitas brasileiras que desejam empreender. Prova disso, é a de que o país tem a sétima maior proporção de mulheres entre os empreendedores iniciais, mas poucas se consagram como “donas do negócio”: há um alto índice de desistência.
De acordo com dados do Sebrae, atualmente, o Brasil conta com 28 milhões homens e 24 milhões de mulheres empreendedoras. Desse montante, apenas 9,3 milhões das mulheres se tornaram “donas de negócio”, termo para caracterizar indivíduos que estão à frente de um negócio formal ou informal. A relação é: em cada 10 empreendedoras mulheres, apenas 3,9 se consagram como donas de negócio. No panorama masculino, a proporção é para cada 10 empreendedores, 6,5 se tornam donos do negócio.
Empreendedorismo por necessidade
A crise econômica que assolou o Brasil de 2014 até 2017 provocou uma grande leva de desemprego, o que gerou uma onda de novas empresas no país como um todo. Chamado de empreendedorismo por necessidade, grande parte das novas companhias surgiram para compor a renda familiar e/ou ser a principal fonte de renda familiar.
Esse cenário, porém, sempre foi recorrente entre as mulheres. De acordo com dados do Sebrae, a proporção do empreendedorismo por necessidade é maior entre elas desde 2012. Atualmente, esse modelo de negócio é responsável por 44% das empresas abertas por elas - enquanto a proporção dos homens é de 32%. No auge da crise econômica, por exemplo, o volume chegou a 55%.
Segundo o estudo do Sebrae, o alto índice de mulheres empreendedoras por necessidade se deve à necessidade delas terem uma outra fonte de renda para adquirir a independência financeira. Atualmente, 9,3 milhões de mulheres que estão à frente de um negócio representam 34% de todos os donos de negócios formais ou informais no país.
Em um relatório divulgado ao final de 2018, a instituição reforça que o grupo das mulheres é muito mais sensível às mudanças da economia e da sociedade. “Talvez porque seja muito volátil a sua composição, sendo que parte expressiva das mulheres ainda vê o empreendedorismo como forma de complementar renda (nesse grupo há muita entrada e/ou saída de mulheres que empreendem por necessidade)”, explicou o órgão no relatório.
Mães empreendedoras
Além do cenário econômico, um dos grandes fatores as motivam as mulheres a empreender é a alta taxa de desemprego causado pela maternidade. Uma pesquisa da FGV em 2017 revelou que 50% das mães são demitidas após o período protegido por lei no pós licença maternidade. “Essas mulheres passam a empreender pela dor, porque elas não conseguem voltar ao mercado de trabalho”, diz Dani Junco, fundadora e CEO da B2Mamy, uma aceleradora que conecta mães empreendedoras ao ecossistema de inovação. “Elas empreendem porque o mundo dos negócios não está pronto para elas: é preciso flexibilidade e liderança horizontal”, indica.
O B2Mamy nasceu da percepção da empresária Dani Junco em promover um ambiente mais atrativo e sustentável para mães que desejam empreender. Em entrevista à Revista Digital Creditas, Dani contou que, além das dificuldades que as mães sentem ao voltar para o mercado de trabalho, pós licença-maternidade, seja pela falta de flexibilidade do trabalho, ou pela falta que sente do filho, durante a gravidez, as mulheres ficam mais criativas e, em muitos casos, têm ideias de novos negócios. Não à toa, segundo dados da Rede Mulher Empreendedora, a cada 100 novas empresas criadas no Brasil, 52 são abertas por mulheres e, destas, mais de 50% têm filhos.
Nos últimos dois anos, três mil e quinhentas mães, entre 28 e 45 anos, foram conectadas e tiveram a oportunidade de crescimento de seus empreendimentos, movimentando cerca de R$ 2 milhões em negócios. No total, foram 100 empresas aceleradas. “Nossa habilidade também está em empreender e trazer dinheiro. O poder financeiro é fundamental para que as mulheres consigam sair de uma situação abusiva, consegue colocá-las no palco. Elas sempre tiveram coragem para isso”, afirma Dani.
Acesso ao crédito
Outra dificuldade enfrentada pelas mulheres é ter acesso a um crédito de qualidade e investimento para conseguir estruturar, tirar do papel ou expandir o negócio. O estudo do Sebrae aponta que, embora a taxa de inadimplência entre as mulheres ser mais baixa, elas são as que mais pagam taxas de juros quando vão tomar um empréstimo para o negócio.
Segundo o levantamento, a taxa de juros anual para as mulheres está em 34,6%, enquanto para os homens é de 31,1%. Já em relação ao índice de inadimplência, a taxa de mulheres não pagantes é de 3,7%. Já os homens estão em 4,2%.
O que muitas não sabem, porém, é que o caminho para o crédito pode ser mais tranquilo e simples. A empresária Ana Maria Gomes, do Comida Saudável, por exemplo, passou a pesquisar opções de crédito com fintechs. Pela experiência com o negócio anterior, ela sabia que encontraria condições de empréstimo saudáveis - com taxas menores e prazos maiores de pagamento - caso usasse algum bem como garantia.
“Eu tenho um carro e sabia que se o deixasse como garantia, eu conseguiria ter taxas de juros menores. E foi o que eu fiz: consegui o empréstimo online com a Creditas para ter capital de giro para o meu negócio”, relembrou a empresária.
Com o acesso ao crédito no final de 2018, ela teve condições de estruturar melhor a empresa e, até mesmo, expandir as opções de negócio. Desde o início do ano, o Comida Boa firmou parceria exclusiva com o aplicativo iFood e passou a atender ainda mais pessoas. “O nosso dilema é um passo por vez e um passo. Conforme formos estruturando o nosso negócio, conseguiremos crescer de maneira sustentável e saudável.”
Escrito por Portal Exponencial
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